quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Ler é um ato de profunda intimidade.

Se permita ter momentos solitários de leitura.

Uma das coisas que mais me atrai nos livros e na leitura é aquele momento de profunda intimidade em que você está mergulhado no conteúdo do texto e de alguma forma parece se conectar com aquele fluxo de pensamento. O cheiro do livro, a forma como as palavras vão se delineando... Você sente os contornos da almofada onde senta, e todo o resto do mundo se fecha num baile de ideias, como se o livro falasse contigo.


É um momento onde o ambiente externo some e há um grande silêncio povoando a sua alma; as palavras do autor jorram na mente como um poema que vai tomando uma forma sutil no pensamento. A mente se ilumina por um breve momento.

Ler um bom livro é um momento único, e são nesses momentos que a compreensão pode transcender a mente concreta e alçar voos mais abstratos, regados por uma dose de intuição e conexão cardíaca com o tema ou autor.

Quando a gente lê apenas com o cérebro esses momentos não acontecem. Quando lemos num estudo em grupo ou simplesmente fazemos uma leitura coletiva em algum encontro virtual ou presencial, usamos apenas o aparato racional do cérebro, e dificilmente a compreensão toca a intuição-coração. Gosto de estudos em grupo para partilharmos reflexões, mas nunca para tomar o primeiro contato com um texto.

Tenho para mim que estudar uma obra exige um momento de intimidade, uma conexão com Eros; é necessária certa introversão, para que a mente toque patamares metafísicos e desvele as verdades interiores que foram sufocadas pelo esquecimento.

Quando passo muito tempo lendo em grupos ou ouvindo leituras, sinto saudades dos momentos solitários. Os livros sempre foram meus melhores amigos, em todos os momentos, são os livros que entendem, que respondem, que acolhem, confortam, que libertam e ensinam.

Nunca abandone seus próprios momentos criativos de leitura e intuição. Não troque a dedicação pessoal no seu próprio ritmo e aprofundamento por estudos em grupo ou leituras coletivas ou o mero ouvir alguém explicando.

Complemente seus momentos de dedicação solitária com estudos em grupo, ouça as reflexões de outros, as explicações, debata, tire dúvidas – mas mergulhe nos livros também, explore as profundezas da mente, e deixe a alma voar. E então quando encontrar aquele livro que te abraça, mergulhe em meditação.

Alaya Dullius (Janeiro 2021)

Um comentário:

  1. Quão serena é sua postura
    Neste idílio introspectivo;
    Absorta, intrépida mergulhas,
    No oceano de signos massivos;
    Ó, perdoe minha descompostura
    Mas saber urgente preciso
    Quantos velhos arcanos se abrigam
    Entrelinhas silentes dos livros?

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