sábado, 26 de maio de 2018

Autoconhecimento ou autoilusão?

Autoconhecimento ou autoilusão?
- Amorosidade ou vaidade? "coach espiritual" ou ego perdido? Estamos nos enganando?
Alaya Dullius


Cuidadores e pessoas em busca de uma via espiritual geralmente são pessoas que se auto incentivam a praticar a generosidade, o compartilhar da sabedoria, o cuidado ao outro. Falamos de compaixão e de ajudar os que tem menos que nós. 
Auxiliar os outros é maravilhoso, não me entendam mal. Mas muitas vezes não nos capacitamos para sermos uma ferramenta de auxilio, nos auto-enganamos (por ilusões do ego, vaidade ou o que quer que seja..) e nos colocamoos como "superiores" aos outros. Na verdade queremos aplauso, mais do que ajudar.. e isso é um caminho perigoso.
Acho que sempre vale uma auto critica, uma auto reflexão.. "estou querendo ajudar as outras pessoas por uma motivação não egoísta genuína ou estou cheio de vaidade querendo parecer que tenho conhecimentos e 'poderes' quando na verdade estou mais perdido ainda"? Vejo muita gente super perdida dando orientação espiritual ou terapêutica...
Não estou aqui fazendo um julgamento, apenas refletindo (inclusive a crítica serve para mim mesma!); muitas vezes acabamos inconscientemente dominados por dissonâncias cognitivas e começamos a justificar tudo que acontece a partir de nossas crenças, e por estarmos perdidos, temos um impulso quase que visceral de querer ficar ajudando todo mundo a se encontrar, quando na verdade as vezes falta olhar para nós mesmos e encontrar um caminho mais equilibrado e perceber onde estão as dores que estão impulsionando esse motor, perceber que o impulso de ajudar é um grito de ajuda para nós mesmos, pois no fundo estamos perdidos..
Acredito que é preciso ter cuidado e discernir o que é uma atitude consciente de cuidar do outro e orientar com base em algo sério, e o que é um impulso patológico de dominar o outro , ou ter um poder vazio sobre o outro, ou nutrir um tipo de vaidade 'espiritual' e acabarmos assim alimentando nossos vícios egoicos ao querermos ser guias dos outros quando mal caminhamos com nossos próprios pés.
Em um texto budista encontramos o dizer "se não podes ser o sol, sê então o humilde planeta e aponta o caminho - por vagamente que o faças, e perdido entre a multidão - como a estrela da tarde àqueles que caminham pela escuridão." -- Mas o Budismo Mahayana também ensina que precisamos nos aperfeiçoar a nos mesmos para sermos melhores guias, senão seremos apenas cegos guiando cegos. "Não podes caminhar no Caminho enquanto não te tornares, tu próprio, esse Caminho." (Voz do Silêncio)
Em uma sociedade cheia de 'guias', 'coaches' e 'gurus', as vezes precisamos ter a humildade de olhar para dentro do nosso coração e nossa mente, e percebermos nossas reais intenções e nossa honesta capacidade, antes de nos empenharmos em "influenciar" outros. 
Aprender com sinceridade com aqueles que já caminharam antes de nós é importante para ter uma reta visão sobre o caminhar. Desprezar os livros e ensinamentos dos verdadeiros Sábios que já passaram por esse mundo, achando-nos auto suficientes e "livres", nada mais é que mais uma ilusão do ego. Este ego percebe a verdade da luz que habita em nós, mas não percebe a interdependência e unidade de tudo que vive, e não vê as sombras que ainda habitam em si.. e como Platão nos diz, confundem a luz do sol com as sombras, e tem a si mesmo em alta conta proferindo palavras bonitas mas vazias e contaminadas de vícios, vaidades e obscurecimentos. São flores perfumadas que escondem venenosas cobras em seu caule, pronta para dar o bote.. E o veneno volta para nós mesmos...
É preciso antes limpar o espelho da lama e do pó, para que então ele possa refletir a luz. Podemos até colocar uma voltagem maior na lampada, mas com um espelho sujo, refletiremos apenas mais ignorância. A luz se torna difusa e mais atrapalha do que ajuda. Uma reta motivação é generosa e compassiva, mas sem sabedoria e discernimento, ela apenas espalha mais trevas.