terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Introdução à Meditação - Um Guia Prático em vários vídeos!

Já pensou em começar uma prática meditativa e não sabe como? Eu estou criando um GUIA de vários vídeos sobre o assunto.


Meditação é muito mais do que ter atenção, e tem inúmeros benefícios! Meditação aumenta a concentração de serotonina no corpo, melhora a concentração, nos torna mais presentes e conscientes das nossas emoções. Meditação alivia estados de insonia, de ansiedade e depressão.
É muito mais do que sentar e fechar os olhos, não é "fazer nada", é um mergulho no si mesmo!
A meditação funciona como um aquietamento da mente, permitindo que nossa luz interior brilhe com mais clareza. Ela nos auxilia a limpar a mente das perturbações que afetam nosso cotidiano, nossos defeitos que impulsionados por desejos e aversões inconscientes influenciam nossa vida e nos impedem de encontrar a plenitude.
A meditação auxilia no cultivo de virtudes, e em uma vida mais serena e presente.

Quer aprender a meditar? Acompanha meus vídeos!




Por Que meditar?! Os Benefícios da prática da meditação!




Dicas Práticas 1 - Local e Horário de meditação



Dicas Práticas 2 - Postura e Respiração



Retomando: Postura, Local e Começando novamente

A Prática da Meditação - Estabilidade emocional, Estímulo e Sonolência.  Plena atenção mental

Lidando com o foco meditativo. Mantras. Transformando as Emoções e Acalmando os Pensamentos

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Um canal no YouTube para falar sério sobre Filosofia, Espiritualidade e Religiões!!

Cansado de papos auto ajuda? Queria se aprofundar nos ensinamentos das grandes religiões e filosofias? Quer ter acesso ao que dizem os textos base de tradições filosóficas, de autores da espiritualidade? 


Criei um canal no Youtube! O VIVEKA! Se inscreva! https://www.youtube.com/channel/UCCcdmziTskoXVjfGrpqZz0Q


Não é um canal auto ajuda, não sou "coach" espiritual de ninguém, não vou falar do poder do pensamento positivo nem te ensinar a conquistar pessoas em 10 lições!Mas vou compartilhar anos de estudos, temas diversos, vou direto nas fontes, nos textos clássicos, nos ensinamentos de diversas tradições que passam pelo budismo, filosofias da Índia, filosofia grega, cristianismo primitivo, místicos medievais, hermetismo, teosofia, meditação e tudo o mais!

Além de acupunturista também sou mestre em filosofia, e por muitos anos imergi nesse mundo de estudos da alma. Já dei cursos e palestras, e então pausei. Mas decidi voltar, então por que não compartilhar os estudos e práticas que tive acesso?!

Chega mais! Esse é meu vídeo de apresentação:


  • Já pensou em começar uma prática meditativa e não sabe como? Eu estou criando um guia de vários vídeos sobre o assunto. Acompanhe o blog e o canal e aproveite as dicas!






quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Alquimia e Rosacruzes - Atalanta Fugiens de Michel Maier

A tradução do poema do prólogo
(para o texto completo em inglês visite http://www.levity.com/alchemy/atalanta.html)

O texto se refere ao prólogo de uma obra entitulada “Atalanta Fugiens”. Trata-se de uma obra de cunho alquímico/esotérico, redigida no séc XVII em um ambiente quase que Shakesperiano por um rosacruz chamado Michael Maier. O poema é a introdução de um texto extremamente simbólico e complexo. Alguns estudiosos ingleses consideram que o próprio Shakespeare tinha conhecimento do conteúdo professado por essas “Sociedades Secretas” e não é de se admirar que algumas de suas obras estejam repletas de elementos simbólicos como “vesti-me de sol” e outras passagens que encontramos. Shakespeare também fazia grande uso de mitologias gregas, e é o que vemos nesse poema. A história de Atalanta é um mito grego. Atalanta era uma espécie de ‘Artémis/Diana’, rápida e enérgica, e desejava um esposo à sua altura. Em uma corrida decidiu-se que aquele que ganhasse dela poderia desposá-la, mas se perdesse, perderia também a vida. Hippomenes apaixonou-se por Atalanta e pediu a Afrodite que o ajudasse a vencer a corrida. Esta lhe deu maçãs de ouro para distrair Atalanta no caminho e assim Hippomenes conseguiu ser vitorioso. Porém em sua felicidade tomou Atalanta muito rapidamente em seus braços, em um Templo de uma Deusa, e esqueceu-se de agradecer a ajuda, sendo assim, a Deusa sentiu-se profanada e transformou-os em dois leões vermelhos. Michel Maier faz uma pequena adaptação dessa história e a insere em um contexto simbólico alquímico.



Atalanta Fugiens
The epigram of the Author

Three Golden Apples from the Hesperian grove.
   A present Worthy of the Queen of Love.
Gave wise Hippomenes Eternal Fame.
   And Atalanta's cruel Speed O'ercame.
In Vain he follows 'till with Radiant Light,  
   One Rolling Apple captivates her Sight.  
   And by its glittering charms retards her flight.  
She Soon Outruns him but fresh rays of Gold,
   Her Longing Eyes & Slackened Footsteps Hold,
'Till with disdain She all his Art defies,
   And Swifter then an Eastern Tempest flies.
Then his despair throws his last Hope away,
   For she must Yield whom Love & Gold betray.
What is Hippomenes, true Wisdom knows.
   And whence the Speed of Atalanta Flows.
She with Mercurial Swiftness is Endued,
   Which Yields by Sulphur's prudent Strength pursued.
But when in Cybel's temple they would prove
   The utmost joys of their Excessive Love,
The Matron Goddess thought herself disdained,
   Her rites Unhallowed & her shrine profaned.
Then her Revenge makes Roughness o'er them rise,
   And Hideous feireenesse Sparkle from their Eyes.
Still more Amazed to see themselves look red,
   Whilst both to Lions changed Each Other dread.
He that can Cybell's Mystic change Explain,
   And those two Lions with true Redness stain,
Commands that treasure plenteous Nature gives
   And free from Pain in Wisdom's Splendor lives.


Tradução

Atalanta Fugiens
(tradução de Alaya Dullius)
A epigrama do Autor

Três maçãs douradas do arvoredo Hesperiano.
Um presente digno da Rainha do Amor.
Deram ao sábio Hippomenes Fama Eterna.
Mas a prontidão cruel de Atalanta se sobrepôs.
Em vão ele seguiu enquanto a luz ainda radiava,
Uma maçã roliça a vista dela cativava.
E o charme reluzente da maçã seu vôo retardava.
Logo ela joga a ele frescos raios dourados,
Mantém seus olhos ansiosos e passos descuidados.
Ainda assim com desdém ela desafia toda a habilidade dele,
E foge mais rápido que uma tempestade do leste .
Então o desespero tira dele a última esperança,
Pois ela deve gerar aquele que Amor e Ouro traem.
O que é Hippomenes, a verdadeira Sabedoria sabe.
E por que razão flui Atalanta com tanta rapidez.
Ela é dotada com a vivacidade do Mercúrio,
Produzido pela força prudente de Exnofre exercida.
Mas quando no templo de Cibele provaram
As maiores alegrias de seu amor excessivo,
A Deusa Mãe sentiu-se desdenhada,
Seus ritos desacreditados, seu santuário profanado.
Então sua vingança sobre eles foi severa,
Terríveis labaredas faiscaram de seus olhos.
Ainda mais assombrados ao verem-se vermelhos,
E com temor ambos em leões foram transformados.
Aquele que explicar a mudança mística de Cibele,
E dos dois leões tingidos de um verdadeiro vermelho,
Comanda o tesouro abundante que a natureza dá
E vive livre da dor no esplendor da Sabedoria.


segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A visão filosófica de um Mahatma Budista sobre Deus

Carta de um Mahatma sobre Deus (ou, a visão de um budista sobre Deus)


[O texto mais coerente e filosófico que já li sobre o tema - Alaya]

 Copiada por A.P.S., 28  set. 1882, em Simla, Índia.


  1. “Nem a nossa filosofia, nem nós próprio acreditamos em um Deus, e muito menos em um Deus cujo pronome necessita de uma inicial maiúscula. Nossa filosofiase encaixa na definição de Hobbes. Ela é preeminentemente a ciência dos efeitos pelas causas e das causas por seus efeitos, e já que ela é também a ciência das coisas surgidas do primeiro princípio, segundo a definição de Francis Bacon, antes de admitir qualquer primeiro princípio devemos conhecê-lo, sem o que não temos o direito de admitir nem mesmo sua possibilidade.
  2. Foi lhe dito que nosso conhecimento estava limitado ao nosso sistema solar: portanto, como filósofos que desejam ser dignos do nome, não poderíamos negar nem afirmar a existência do que você qualificou como um ser supremo, onipotente, inteligente, de um tipo além dos limites do sistema solar.
  3. Mas embora tal existência não seja absolutamente impossível, a menos que a uniformidade da lei da natureza se rompa naqueles limites, nós sustentamos que é altamente improvável. Mesmo assim, rejeitamos de modo extremamente enfático a posição do agnosticismo neste sentido, e com relação ao sistema-solar. Nossa doutrina não conhece meios termos. Ela afirma ou nega, porque só ensina aquilo que sabe que é verdade. Portanto, nós negamos a Deus como filósofos e como budistas. Sabemos que há vidas planetárias e outras vidas espirituais e sabemos que em nosso sistema solar não existe coisa tal como Deus, seja pessoal ou impessoal. Parabrahm não é um Deus, mas a lei absoluta e imutável, e Ishwara é o efeito de Avidya e Maya, ignorância baseada na grande ilusão.
  4. A palavra “Deus” foi inventada para designar a causa desconhecida daqueles efeitos que o homem tem adorado ou temido sem entender, e já que nós alegamos que somos capazes de comprovar o que alegamos – isto é, que conhecemos aquela causa e outras causas – temos condições de sustentar que não há Deus ou Deuses atrás daqueles efeitos.
  5. A idéia de um Deus não é uma noção inata, mas adquirida, e nós só temos uma coisa em comum com as teologias – nós revelamos o infinito. Mas enquanto atribuímos causas materiais, naturais, sensíveis e conhecidas (por nós pelo menos) a todos os fenômenos que procedem do espaço, da duração e do movimento infinitos e ilimitados, os teístas atribuem a eles causas sobrenaturais, inteligíveis e desconhecidas.
  6. O Deus dos teólogos é simplesmente um poder imaginário, um bicho papão. Nossa principal meta é libertar a humanidade deste pesadelo, ensinar ao homem a virtude pelo bem da virtude, e ensiná-lo a caminhar pela vida confiando em si mesmo, ao invés de depender de uma muleta teológica que por eras incontestáveis foi a causa direta de quase toda miséria humana.
  7. Se as pessoas estiverem dispostas a aceitar como Deus nossa VIDA UNA, imutável e inconsciente em sua eternidade, poderão fazê-lo e assim manter mais um gigantesco equívoco de denominação. Mas então terão de dizer como Spinoza que não há e não podemos conceber qualquer substancia além de Deus, conforme aquele famoso filosofo diz em sua décima-quarta proposição: “praeter Deum neque dari neque concipi potest substantia” – e assim tornarem-se panteístas.
  8. Quem, exceto um teólogo formado no mistério e no mais absurdo sobrenaturalismo o de imaginar um ser auto-existente, necessariamente infinito e onipresente, FORA do universo manifestado que NÃO TEM FRONTEIRAS? A palavra infinito é apenas uma negativa que exclui a idéia de limites. É evidente que um ser independente e onipresente não pode estar limitado por nada que seja externo a ele; que não pode haver nada externo a ele – nem mesmo vácuo, portanto, onde haverá espaço para a matéria? Para aquele universo manifestado, mesmo que este último seja limitado? Se perguntarmos para os teístas se o Deus deles é vácuo, espaço ou matéria, eles responderão que não. E no entanto sustentam que o Deus deles penetra a matéria embora ele próprio não seja a matéria. Quando nós falamos da nossa Vida UNA, também dizemos que ela não só penetra, mas é a essência de cada átomo de matéria; e que, portanto, ela não apenas tem correspondência com a matéria, mas possui também todas as suas propriedades. Conseqüentemente, também é material e a própria matéria.
  9. Como poderia a inteligência proceder ou emanar da não-inteligência? “ - você insistia em perguntar no passado. “Como poderia uma humanidade inteligente ter evoluído a partir de um lei ou força cega, não-inteligente!” Mas um vez que raciocinamos nesta direção, eu posso perguntar por minha vez, como poderiam deficientes mentais congênitos, animais que não raciocinam e o resto da ‘criação’ ter sido criados ou haver evoluído a partir de uma Sabedoria Absoluta, se esta última é um ser pensante inteligente, o autor e governante do Universo? Como? “Deus fez o olho e não enxergará?” Deu fez o ouvido e não escutará?”.  De acordo com este modo de pensar eles teriam que admitir que, ao criar um deficiente mental, Deus é um deficiente mental; que aquele que fez tantos seres irracionais, tantos monstros físicos e morais, deve ser irracional...
  10. Nós não somos advaitas, escola não dualista da tradição dos Vedas que foi fundada por Sankarahcaria, mas nosso ensinamento com respeito à Vida Una é idêntico ao dos advaitas com relação a Parabrahma. E nenhum verdadeiro advaita treinado filosoficamente jamais se identificará com um agnóstico, porque sabe que ele é Parabrahma e idêntico em todos os aspectos à vida universal – o macrocosmo e o microcosmos, e sabe que não há Deus separado dele, nenhum criador, como nenhum ser. Tendo encontrado a gnosis, nós não podemos nos esquecer e transformar-nos em agnósticos.
  11. ... Se fôssemos admitir que até mesmo os mais altos Budas podem cair em alguma ilusão, então de fato não haveria realidade para nós. Se há um absurdo em negar aquilo que não conhecemos, é ainda mais absurdo atribuir a ele leis desconhecidas.
  12. Segundo a lógica, o “nada” é aquilo do qual tudo pode ser corretamente negado e do qual nada pode ser corretamente afirmado. No entanto, de acordo com teólogos, “Deus, o ser auto-existente, é extremamente simples, imutável, incorruptível; sem partes, sem figura, movimento, divisibilidade ou quaisquer outras propriedades como estas, que encontramos na matéria. Porque todas estas coisas implicam muito clara e necessariamente finitude em sua própria noção, e estão totalmente afastadas da infinidade completa”. Portanto, o Deus oferecido à adoração no século XIX perde toda qualidade sobre a qual a mente do homem seja capaz de ter qualquer julgamento. O que é isto, na verdade, além de um ser do qual eles não podem afirmar COISA ALGUMA que não seja negada instantaneamente?
  13.  A própria Bíblia deles, no Apocalipse , destrói todas as perfeições morais que eles empilham sobre esse ‘Deus’, a menos, de fato, que qualifiquem como perfeições aquelas qualidades que a razão e o senso comum de qualquer homem comum chamam de vícios odiosos e maldade brutal. Quem lê as nossas escrituras budistas, as escritas para as massas supersticiosas, não encontrará nelas um DEMÔNIO tão vingativo, injusto e cruel quanto o tirano celestial ao qual os cristão atribuem perfeições negada em cada página da sua Bíblia. A Teológia criou o Deus dela apenas para destruí-lo pedaço por pedaço. A Igreja de vocês é o Saturno do mito, que tem filhos apenas para devorá-los.
  14. Negamos a existência de um Deus pensante, consciente, com base em que um tal Deus deveria ser condicionado, limitado, sujeito a mudança, e portanto, não infinito. E se ele for descrito para nós como um ser eterno, imutável e infepedente, sem partícula alguma de matéria em si, então responderemos que ele não é um ser, mas um princípio imutavel e cego, uma lei. Rejeitamos a proposição absurda de que pode haver, mesmo em universo ilimitado e eterno, duas existências eternas e onipresentes.
  15. Quanto a Deus, já que ninguém jamais e em tempo algum o viu – a menos que ele seja a própria essência da Natureza, sua energia e seu movimento, não podemos vê-lo como eterno, infinito ou auto-existente. Nós nos recusamos a admitir a existência de um ser do qual nada se sabe; porque não há espaço para ele na presença daquela matéria cujas qualidades nós conhecemos bem, porque se ele é apenas uma parte daquela matéria, seria ridículo sustentar que ele movimenta e governa aquilo de que ele é apenas uma parte dependente e porque se nos dizem que Deus é um puro espírito auto-existente e independente da matéria – uma deidade extra cósmica - nós respondemos que mesmo admitindo a possibilidade de tal impossibilidade, isto é, a existência dele, nós sustentaríamos que um espírito puramente imaterial não pode ser um governante consciente e inteligente, nem pode ter nenhum dos atributos atribuídos a ele pela teologia, assim, um tal Deus se tornaria novamente um força cega natural.
  16. A inteligência torna necessário o pensamento; para pensar alguém deve ter idéias; idéias supõem sentidos, que são físicos e materiais, como pode qualquer coisa material pertencer ao puro espírito? Se for feita a objeção de que o pensamento não pode ser uma propriedade da matéria, nos perguntaremos: por quê?
  17. Nós não inclinamos nossas cabeças até o pó do chão diante do mistério da mente – porque já o resolvemos eras atrás. Rejeitando com desprezo a teoria teísta, rejeitamos ao mesmo tempo a teoria do autômato, que ensina que os estados de consciência são produzidos pela disposição das moléculas do cérebro. Então, em que acreditamos? Acreditamos na matéria como natureza visível e produtora de causa e na matéria em sua invisibilidade, com seu movimento incessante que é a sua VIDA.
  18. Nossas idéias a respeito do mal são que o mal não tem existência por si mesmo e é apenas a ausência do bem; existe apenas para aquele que é transformado em sua vítima. Surge de duas causas e, tanto quanto o bem, não é uma causa independente da natureza. A natureza é destituída de bondade ou maldade, apenas segue leis imutáveis quando dá vida ou morte, cria ou destrói. A natureza tem um antídoto para cada veneno e suas leis possuem uma recompensa para cada sofrimento.
  19.  O verdadeiro mal surge da inteligência humana e sua origem está inteiramente no homem que raciocina e se dissocia da Natureza. A humanidade, portanto, é a verdadeira fonte do mal. O mal é produto do egoísmo e da ganância, gerados pela ignorância. Pense profundamente e descobrirá que, com a exceção da morte – que não é um mal mas uma lei necessária – e de acidentes, que sempre terão sua recompensa em uma vida futura – a origem de cada mal está na ação humana, no homem, cuja inteligência faz dele o único agente livre da natureza.
  20. Não é a Natureza que cria doenças, mas o homem. O destino do homem na economia da natureza é ter uma morte natural provocada pela velhice; salvo acidentes, nenhum homem selvagem ou animal livre morrem devido a doenças. Comida, bebida, relações sexuais, são necessidade naturais da vida; no entanto, o excesso delas traz doença, miséria, sofrimento mental e físico; e estes últimos são transmitidos como os maiores males para as gerações futuras, os descendentes dos culpados.
  21. A ambição, o desejo de assegurar a felicidade e conforto para aqueles que amamos através da obtenção de honras e riquezas são sentimentos naturais, mas quando  eles transformam o homem num tirano cruel e ambicioso, um miserável, um egoísta, trazem miséria indescritível para os que estão ao redor dele; e para nações tanto quanto para indivíduos. Tudo isso então – comida, riqueza, ambição e outras mil coisas que deixamos de mencionar – se torna fonte e causa do mal, seja por causa de sua abundância ou devido à sua ausência. Torne-se um glutão, um devasso, um tirano, e você se transforma em um gerador de doenãs, de sofrimento e miséria humanos. Deixe de lado tudo isso e você passa fome, é desprezado como um ninguém, e a maior parto do rebanho, os seus semelhantes, transforma você em um sofredor a vida toda. Portanto, não é a natureza nem uma divindade imaginária que devem ser acusadas, mas a natureza humana transformada em algo mau pelo egoísmo. Pense bem sobre estas poucas palavras; identifique a causa de cada mal em que voocê pode pensar e localize a sua origem e terá resolvido uma terça parte do problema do mal.
  22. E agora, depois de deixar de lado, como é devido, os males que são naturais e não podem ser evitados – e eles são tão poucos que eu desafio todo o conjunto dos metafísicos ocidentais a qualificá-los como males ou atribuir-lhes uma causa independente – direi a você qual é a maior, a principal causa de cerca de dois terços dos males que perseguem a humanidade desde que esta causa se tornou um poder. É a casta sacerdotal, o clearo e as igrejas; é nestas ilusões que o homem vê como sagradas, que ele deve procurar a fonte daquele sem-número de males, que é a grande maldição da humanidade e que quase tomina totalmente o gênero humano.
  23. A ignorância criou Deuses e a astúcia aproveitou a oportunidade. Além disso, um sentimento constante de dependência a uma Divindade vista como a única fonte de poder faz com que um homem perca toda autoconfiança e o impulso para a atividade e a iniciativa. É um pecado atribuir a um Deus a tarefa de libertar as pessoas de si mesmas. Veja a Índia, veja a cristandade, o Islamismo, o Judaísmo e o fetichismo. Foi a impostura do clero que fez com que estes deuses passassem a ser tão terríveis para o homem; é a religião que o transforma no beato egoísta e fanático que odeia toda a humanidade fora de sua própria seita, sem torná-lo em nada melhor ou mais ético por isso. É a crença em Deus e Deuses que faz dois terços da humanidade escravos de um punhado daqueles que os enganam com o falso pretexto de salvá-los. O homem não está sempre pronto a cometer qualquer tipo de maldade se lhe disserem que seu Deus exige o crime- vítima voluntária de um Deus ilusório, escravo abjeto de seus ministros astuciosos? Os camponeses passarão fome e verão suas famílias famintas e sem roupa para alimentar e vestir seu padre e seu papa. Durante dois mil anos a Índia gemeu sob o peso das castas, com os brâmanes engordando só a si mesmos. E hoje os seguidores do Cristo e os de Maomé - que foram seres iluminados e tiveram sua mensagem distorcida pela ignorância dos homens - estão cortando as gargantas uns dos outros em nome de seus respectivos mitos. A soma da miséria humana nunca será diminuída até aquele dia em que grande parte da humanidade destruir, em nome da Verdade e da Compaixão, os altares de seus falsos deuses.
  24. Se for feita a objeção de que nós também temos templos, de que nós também temos sacerdotes e que nossos lamas também vivem da caridade... que se saiba que os objetos mencionados acima só têm o nome em comum com seus equivalentes ocidentais. Em nossos templos não há um deus ou deuses adorados, apenas o respeito à memória do mais iluminado dos homens. Se nossos lamas, para honrar a fraternidade dos Bhikkhus, estabelecida pessoalmente pelo nosso abençoado mestre, saem para serem alimentados pelos leigos, este últimos, em números que vão de 5 a 25.000, são alimentados e cuidados pela Sangha (a fraternidade de monges lamáicos), e a lamaseria atende as necessidades dos pobres, dos doentes e dos aflitos. Nossos lamas aceitam comida, nunca dinheiro, e em nossos templos a origem do mal é explicada e transmitida ao povo. Lá são ensinadas as quatro nobres verdades e a cadeia de causação interdependente (nidanas), que lhes dá uma solução para o problema da origem do sofrimento e sua destruição.
  25. Leia o Mahavagga e tente compreender, não com a mente ocidental preconceituosa, mas com o espírito de intuição e de verdade o que o Buda Iluminado diz no 1º Khandhaka. Permita que eu traduza para você.
  26. “Na época em que o abençoado Buda estava em Uruvela, às Margens do rio Neranjara, quando descansava sob a árvore da sabedoria Bodhi, mantendo sua mente fixa na cadeia de causação (nidanas) ele falou assim: ‘da Ignorância (avidya) surgem os samskharas (germes e tendências karmicas estabelecidos em vidas anteriores fruto de impressões deixadas na mente pelas ações e circunstâncias)... os samskharas de natureza tríplice – produtos do corpo, da fala e do pensamento. Dos samskharas surge consciência, da consciência surgem nome e forma, deles surgem as seis regiões dos sentidos; deste surge o contato, deste a sensação; desta surge a ânsia e desejo, e disso o apego, a existência, o nascimento, a velhice, a morte, a aflição, a lamentação, o sofrimento, o desânimo e o desespero. No sentido inverso, pela destruição da Ignorância, raiz do sofrimento, os samskharas são destruídos, e a consciência deles, nome e forma, as seis regiões, o contato, a sensação, o apego (egoísmo), a existência, nascimento, velhice, morte, o sofrimento são destruídos. Assim é a cessação de toda essa massa de sofrimento.”
  27. Sabendo disso, o Ser Abençoado fez esta afirmação solene:
  28. “Quando a natureza real das coisas se torna clara para o Bhikshu que medita, então suas dúvidas desaparecem, já que ele compreendeu qual é aquela natureza e qual a sua causa. Da ignorância surgem todos os males. Do conhecimento interior (que os gregos chamam Gnosis) vêm a cessação desta massa de infelicidade, e então o brâmane que medita ergue-se dispersando as hostes de Mara como o sol ilumina o céu.”
  29. Meditação aqui significa as qualidade dos sidhis (que não são sobrenaturais), ou a condição de Arhat nos seus mais altos poderes espirituais."
Esta carta foi escrita no século XIX por um oriental, representante do budismo Mahayana/Vajrayana, que conheceu o ocidente e neste fez um amigo. Seu amigo ocidental lhe questionou sobre a questão de Deus e o Bodhisatva respondeu -  em “Cartas dos Mahatmas para A.P.Sinnet”

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Budismo e Vegetarianismo.

Compaixão por todos os seres sencientes
OM MANI PADME HUM

Capítulo 8 do sutra Lankavatara.




Capítulo 8 – Dharani

Naquela época, Mahamati, o Bodhisattva-Mahasattva pediu ao abençoado por mais explicação: Fale-me Abençoado, Tathagata, Iluminado, sobre o mérito e vício relativo à questão de comer carne; para que deste modo eu e outros bodhisattvas do presente e do futuro possamos ensinar o Dharma a fim de fazer com que os seres abandonem seu ávido apego por carne, seres que sob a influência da energia do hábito relativo às existências carnívoras anseiam intensamente por comidas de carne. Esses comedores de carne, ao abandonarem esse desejo, irão buscar o Dharma e considerar todos os seres com amor, como se fossem seus filhos, e terão grande júbilo e compaixão pelos seres. Desenvolvendo compaixão eles irão colocar a si mesmos, com disciplina, nos estágios para a senda dos bodhisattvas e se tornarão despertos em grande iluminação. Abençoado, mesmo aqueles filósofos que mantém ideias errôneas e estão apegados às visões do Lokayata tais como o dualismo da existência e não-existência, o niilismo e o idealismo, mesmo eles irão proibir o consumo de carne e irão eles mesmos pararem de consumir. Ó Grande Instrutor, aquele que promove a misericórdia é um ser iluminado; não há nada de ruim em impedir o consumo de carne, não só para si mesmo, mas para os outros também. Sim, deixe que O Abençoado, cujo coração está preenchido com amor pelo mundo todo, que considera todos os seres como seus filhos e que possui grande compaixão em conformidade com seus sentimentos bondosos, ensine-nos sobre o mérito e vício relativo ao consumo de carne, de modo que eu e outros bodhisttavas possamos ensinar o Dharma. O Iluminado respondeu: “Escute então, Mahamati, e reflita bem; Eu lhe direi.” “Certamente, ó Iluminado.” Respondeu Mahamati, o Bodhisattva- Mahasattva. E pôs-se a ouvir.

O Iluminado disse então a ele: Por inúmeras razões, Mahamati, o Bodhisattva, cuja natureza é compaixão, não deve comer nenhuma carne; Explicarei: Mahamati, nessa longa jornada de renascimentos, não há um ser que, tendo assumido a forma de um ser vivo, não tenha sido sua mãe, pai, irmão, irmã, filho ou filha, ou outro dos laços que unem; ao renascer poderão adquirir a forma de animais, selvagens ou domésticos; assim sendo, como pode um Bodhisattva-Mahasattva, que tenciona aproximar-se de todos os seres como se fossem ele mesmo e praticar as verdades ensinadas pelo Buda, comer a carne de seres vivos que possuem a mesma natureza que ele mesmo? Mahamati, mesmo o Rakshasa que ouve os discursos do Tathagata sobre a elevada essência do Dharma alcança a percepção da necessidade de proteger o Dharma e ter compaixão; até mesmo ele evita o consumo de carne. Então Mahamati, onde quer que haja evolução de seres vivos, que as pessoas divulguem com alegria o sentimento de equanimidade, e pensem que todos os seres vivos devem ser amados como filhos únicos, que todos deixem de comer carne! A carne de um cachorro, jumento, búfalo, cavalo, homem ou qualquer outro ser, não é para ser comida. O Bodhisattva, portanto, não deve comer carne.

Pelo amor à pureza, Mahamati, o Bodhisattva deve evitar a carne, que nasce através de sêmen e sangue, etc. Por receio de causar sofrimento a outros seres, Mahamati, o Bodhisattva, que se dedica a atingir elevada compaixão, não deve comer carne. Para ilustrar: quando um cão vê à distância um caçador, cujo desejo é comer carne, ele se apavora e pensa “eles são assassinos, irão me matar”. Da mesma maneira, Mahamati, até mesmo os animais que vivem nos céus, na terra e na água, ao verem comedores de carne à distância, perceberão nos caçadores, por seu aguçado olfato, o desejo por carne, e fugirão de tais pessoas o mais rápido que puderem; pois tais pessoas são para os animais a ameaça de morte. Por esta razão, Mahamati, que o Bodhisattva que se dedica ao caminho da iluminação, que busca ater-se à grande compaixão, deixa de comer carne, para não aterrorizar os seres vivos. Mahamati, a carne, morta por pessoas sem sabedoria, está cheia de um odor fétido e consumi-la traz má reputação, o que faz com que pessoas sábias se afastem; O Bodhisattva não come carne. A comida dos sábios, Mahamati, é a mesma dos Rishis. Não consiste de carne e sangue. Portanto, Mahamati, o Bodhisattva não come carne.

A fim de proteger a mente de todas as pessoas, o Bodhisattva, cuja natureza é pura e santa e que não deseja que o ensinamento do Buda seja distorcido, abstém-se de carne. Pois, Mahamati, há pessoas que falam mal do ensinamento do Buda, elas dizem: “Porque aqueles que dizem estar vivendo a vida de um Sramana ou um Brâmane rejeitam a comida consumida pelos Rishis e, como animais carnívoros vagam pelo mundo aterrorizando as criaturas, ignorando a vida que deve ser levada pelo Sramana e destruindo os votos do Brâmane? Não há nenhum Dharma em suas mentes, nenhuma disciplina.” Há muitas pessoas que por essa causa tornam-se mentalmente desfavoráveis aos ensinamentos do Buda. Por esta razão, Mahamati, a fim de proteger a mente das pessoas, o Bodhisattva, cuja natureza é cheia de misericórdia e que deseja evitar que o ensinamento do Buda seja distorcido, abstém-se de carne.

Mahamati, o odor fétido emitido por um cadáver é ofensivo. Que o Bodhisattva abstenha-se de carne. Quando carne é queimada, seja de um homem morto ou de outra criatura, não há distinção entre o odor. Qualquer tipo de carne, quando queimada, emite um odor igualmente nocivo. Portanto, Mahamati, que o Bodhisattva, que deseja a pureza em sua prática, abstenha-se totalmente do consumo de carne.

Mahamati, quando filhas da boa linhagem, desejando exercitarem-se em várias disciplinas, tais como o desenvolvimento de um coração compassivo, o domínio de fórmulas mágicas, ou o conhecimento mágico perfeito, ou, ao engajarem-se em uma peregrinação pela senda Mahayana, retiram-se para lugares isolados, demônios se aproximarão delas se ainda comerem carne. Se, sentadas em poltronas ou assentos dedicados à prática, serão impedidas de desenvolver siddhis ou alcançar a libertação por causa do consumo de carne.

Até mesmo a visão de formas objetivas faz com que surja o desejo de provar seu sabor, que o Bodhisttava, cheio de piedade e considerando todos os seres como seus filhos, abstenha-se de carne completamente. Reconhecendo que sua boca tem cheiro extremamente fétido, mesmo estando vivo, o Bodhisattva, cuja natureza é piedade, abstém-se totalmente de comer carne.

O comedor de carne dorme mal e acorda perturbado. Ele sonha com acontecimentos terríveis. Ele vive sozinho em uma cabana vazia; seu espírito é perseguido por demônios. Freqüentemente ele é abatido pelo medo, ele treme, sem saber o porquê. Não há regularidade em sua dieta e ele nunca está satisfeito. Em seu comer, ele nunca sabe o que é o gosto próprio dos alimentos, a digestão e a nutrição. Suas vísceras estão entupidas com vermes e outras criaturas impuras por causa da carne. Ele já não se sente tão avesso a doenças. Se eu ensino que consideremos a comida com se estivéssemos comendo nossos próprios filhos ou tomando drogas, como poderia eu permitir que meus discípulos, Mahamati, alimentassem-se de carne e sangue, que são gratificantes aos tolos mas abomináveis aos sábios, que trazem muito mal e afastam muitos méritos; que não são oferecidas aos Rishis e são inadequadas?

Agora, Mahamati, a comida que eu permito que meus discípulos consumam agrada aos sábios e é evitada pelos ignorantes; mantém a maldade afastada e é prescrita pelos antigos Rishis. Consiste de arroz, cevada, trigo, feijões, lentilha, óleos, mel, melado, frutas, etc.; comida preparada com estes ingredientes é a boa comida. Mahamati, pode haver pessoas irracionais no futuro que irão discriminar e estabelecer novas regras de disciplina ética e que, sob a influência da energia de hábito pertencente às raças carnívoras, irão avidamente desejar o gosto da carne: não é para tais pessoas que a alimentação acima foi sugerida. Mahamati, esta é a comida que eu indico para os Bodhisattvas-Mahasattvas, que se dedicaram aos Budas, que germinaram sementes de bondade e têm confiança. Aqueles que são todos da família do Sakyamuni, filhos e filhas de boas famílias, que não têm apego ao corpo, à vida, às propriedades, que não cobiçam prazeres, não são gananciosos, que, sendo compassivos, desejam abarcar a todos os seres vivos e consideram a todos como eles mesmos, que têm afeto pelos seres como se fossem seus filhos.

[...] ... [...]

Há muitos males em comer carne Mahamati, numerosos vícios são gerados nas mentes pervertidas daqueles que estão engajados no consumo de carne. Os ignorantes e de mente fraca não estão cientes de tudo isso, e dos deméritos ligados ao consumo de carne. Saiba, Mahamati, que conhecendo isto, o Bodhisattva, cuja natureza é piedade, abstém-se de carne.

Mahamati, se a carne não é consumida por ninguém por razão alguma, então não haverá mais destruição da vida. Na maioria dos casos o extermínio de seres inocentes é feito por motivos de orgulho e raramente por outras causas. Nada de bom pode ser dito sobre comer a carne de seres sencientes, e alguém contaminado pelo ávido desejo de carne pode chegar ao ponto de comer carne humana! Mahamati, na maioria dos casos, armadilhas e outros dispositivos são colocadas em vários locais por pessoas que perderam a noção de seu apego pelo gosto da carne, e, assim, muitas vítimas inocentes são destruídas por causa do valor atribuído a elas. Há até mesmo aqueles, Mahamati, que são como Rakshasas de coração duro, e que costumam praticar crueldades. Aqueles que, sendo completamente sem compaixão, pensarão nos seres vivos como sendo destinados ao consumo e destruição – nenhuma compaixão surgirá nesses.

Não é verdade que a carne é comida aceitável e permissível para o Sravaka quando a vítima não foi morta por este, quando este não pediu a outros que a matassem e quando não era especialmente destinada a ele. Novamente, Mahamati, haverá pessoas inconseqüentes no futuro que se engajando no caminho ensinadas por mim e conhecidas como filhos de Sakya, pessoas que vestirão o manto Kashaya como um emblema, mas que serão em pensamento terrivelmente afetadas pelo klesha das noções errôneas. Eles falarão sobre suas várias práticas de disciplina, apegados à visão de uma alma pessoal. Sob a influência do desejo pelo sabor da carne criarão argumentos sofistas para defender o consumo de carne. Pensarão que estarão permitindo que eu seja caluniado quando falam de fatos possíveis de interpretar de várias formas. Imaginando que este fato em particular seja possível interpretar, eles concluirão que o Iluminado permite o consumo de carne, e que esta é mencionada entre os alimentos permitidos e que provavelmente o próprio Tathagata o consumiu. Mas, Mahamati, em lugar algum nos sutras o consumo de carne é permitido, nem referido como sendo próprio entre os alimentos sugeridos aos seguidores do Buda.

Se eu tivesse, Mahamati, uma mente que permitisse o consumo de carne, se eu dissesse que ela é própria para os Sravakas, eu não teria proibido o consumo de carne para estes iogues, filhos e filhas da boa linhagem. Desejando compartilhar a idéia de que todos os seres vivos são para eles como um filho único, esses iogues são compassivos, praticam a contemplação e uma vida ascética, eles seguem o caminho do Mahayana. Mahamati, este ensinamento de que não se deve comer carne é aqui dado a todos os filhos e filhas da boa linhagem, sejam eles ascetas das florestas ou iogues que praticam os exercícios, se eles desejam o Dharma e estão trilhando o caminho. Possuindo compaixão, consideram todos os seres como filhos, assim atingem a meta de sua disciplina.

Nos textos canônicos o processo de disciplina é desenvolvido em seqüência ordenada, como uma escada em que se sobe passo a passo, degrau por degrau, cada um unido ao outro de maneira regular e metódica. Há uma proibição quanto à carne encontrada em animais já mortos. No presente sutra qualquer forma de consumo de carne, de qualquer maneira e em qualquer lugar, é incondicionalmente e uma vez por todas, proibida a todos. Assim, Mahamati, eu não permito que ninguém coma carne, nem permitirei. Alimentar-se de carne, Mahamati, é impróprio para monges. Poderá haver alguns, Mahamati, que dirão que o Tathagata consumiu carne, eles o farão achando que isso irá caluniá-lo. Pessoas ignorantes como essas serão amaldiçoadas por seu próprio carma impeditivo, e cairão nas regiões onde longas noites se passam sem ganho nem alegria. Mahamati, os nobres Sravakas não consomem a comida das pessoas comuns, muito menos a comida que vem da carne e do sangue, que é de todo imprópria. Mahamati, o alimento próprio para meus Sravakas, Pratyekabuddhas e Bodhisattvas é o Dharma, e não a carne. O Tathagata é o Dharmakaya, Mahamati; ele se atém ao Dharma como alimento; seu corpo não é um corpo que se alimentou de carne; ele não suporta nenhum alimento cárneo. Ele já se expurgou da energia-hábito de sede e desejo que mantém preso à existência; ele mantém a má energia-hábito das paixões afastada; ele é totalmente emancipado em mente e sabedoria; ele é aquele que tudo sabe, que tudo vê; ele considera a todos os seres com imparcialidade e como seus filhos; ele é um grande coração compassivo. Mahamati, considerando que todos os seres são como um filho único, como posso eu permitir que os Sravakas comam a carne de seus próprios filhos? Muito menos eu o faria! Afirmar que eu permiti que os Sravakas, assim como eu mesmo, tomassem parte no hábito de comer carne, Mahamati, é algo totalmente sem fundamento.

É dito:

1. Licor, carne e cebola devem ser evitados pelos Bodhisattvas-Mahasattvas e por aqueles que são heróis da vitória.
2. A carne não agrada aos sábios: possui um odor fétido e nauseante, causa má reputação, é comida para os carnívoros; Digo-lhe Mahamati, não deve ser consumida.
3. Àqueles que consomem carne há efeitos ruins, àqueles que não a consomem, méritos; Mahamati, você deve saber que os comedores de carne trazem para si mau carma.
4. Que o iogue deixe de comer carne, já que a carne também cresce nele e o ato de comê-la é uma transgressão, já que a carne é produzida por sêmen e sangue e o ato de matar os animais aterroriza os seres.
5. Que o iogue sempre deixe de comer carne, cebola e os vários tipos de licor e alho.
6. Não unte seu corpo com olho de gergelim; não durma em uma cama cheia de espinhos; os seres que vivem em cavidades e fora delas ficarão terrivelmente assustados.
7. Do comer carne surge arrogância, da arrogância surge uma noção errônea, e dela a ganância; por esta razão deixe de comer carne.
8. Da imaginação surge a ganância, e com a ganância a mente fica estupefata; surge apego à estupefação e assim não há libertação do nascimento e morte.
9. Por causa de lucro seres sencientes são destruídos, pela carne é dado dinheiro, isto é uma ação errônea e a ação irá maturar nos infernos.
10. Aquele que come carne, ignorando as palavras do Muni, tem uma mente maldosa; ele é apontado nos ensinamentos do Sakya como o destruidor do bem-estar dos dois mundos.
11. Esses causadores de mal irão para os mais terríveis infernos; comedores de carne serão jogados em horríveis infernos, tais como o Raurava, etc..
12. Não há carne que possa ser considerada pura, seja ela não premeditada, não pedida e não impelida. Portanto, deixe de comer carne.
13. Que o iogue não coma carne, é proibido por mim assim como pelos Budas; Seres que se alimentam uns dos outros renascerão entre os animais carnívoros.
14. Aquele que come carne cheira mal, é desdenhoso e privado de inteligência; ele nascerá novamente e novamente nas famílias de Candala, Pukkasa e Domba.
15. O consumo de carne é rejeitado por mim em sutras como o Hastikakshya, o Mahamegha, o Nirvana, o Anglimalika e este, o Lankavatara.
16. O consumo de carne é condenado pelos Budas, Bodhisattvas e Sravakas; se alguém devora a carne sem sentir-se envergonhado, para sempre esta pessoa será insensata.
17. Aquele que evita a carne, etc., nascerá, por causa disso, na família dos Brâmanes, dos Iogues, dotado com conhecimento e bem-estar.
18. Que a pessoa evite todo tipo de consumo de carne, ignorando o que outros possam dizer; esses teóricos que nasceram em famílias carnívoras não entendem nada.
19. Assim como a ganância é um impedimento para a libertação; da mesma forma, consumir carne, licor, etc., também são impedimentos.
20. Poderá haver uma época em que as pessoas passem a fazer tolas afirmações sobre o consumo de carne, dizendo: “A carne é própria para se comer e permitida pelo Buda”.
21. “Comer carne é uma medicina”; novamente, lembre que é a carne de uma criança; siga as medidas corretas e seja avesso à carne.
22. O consumo de carne é proibido por mim em todo lugar e em todos os tempos para aqueles que estão procurando desenvolver a compaixão; aquele que come carne renascerá como um leão, tigre, lobo, etc.
23. Portanto, não coma carne, tal ato causara terror entre as pessoas, pois impede que surja a verdade da libertação; Deixar de comer carne – este é o ensinamento dos Sábios.

Aqui termina o oitavo capítulo, “Sobre o consumo de carne”, do Sutra Lankavatara, a essência do ensinamento de todos os Budas.

Tradução Aláya Dullius de Souza

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Você é autêntico no seu caminhar espiritual?

Para mim, para você, para quem se identificar:

Quem é você e sua busca? Por favor, não me fale de “Pura Presença” ou que o “Universo vibra em você” ou que você “vibra na abundância do amor”. Não me venha com “gratidão” e “namastê”.

Fernando Pessoa disse em um poema que está farto de semi-deuses, eu também! quero ver gente nesse mundo!


Blavatsky escreveu certa vez que “Nenhum homem ou mulher “culto” jamais mostrará raiva em sociedade. Controlar e reprimir toda mostra de desagrado é demonstração de boas maneiras, certamente, mas também uma considerável façanha em matéria de hipocrisia e dissimulação. Há um lado oculto nesta regra de boa educação, e ele é revelado em um provérbio oriental: “Não confie num rosto que nunca mostra sinais de raiva, nem num cachorro que nunca late”. Os animais de sangue frio são os mais venenosos.”

Cansa ver tanta gente que “emana luz”, mas que luz de LED é essa! Gente perfeita demais, pura demais, amorzinho demais. Quanta falsidade nesse meio “espiritualisa/humanizado".

Pare de tentar ser o que você não é! Esse sorriso “good-vibes” cheira a falta de autenticidade. Ser amoroso e íntegro não é ser fofinho com os outros; ou recitar de cor frases manjadas com tom espiritualista, ou distribuir sorrisos quando por dentro há turbilhões!

Não existe caminhar sem intuição, sem olhar pra dentro, sem discernimento. Mas não confunda intuição com desejo inconsciente manifesto, com projeções do ego vaidoso que quer sentir-se especial – isso não é intuição.

Não há caridade em tolerar o ouro falso que brilha engano. Não há tolerância no aceitar aquilo que com palavras doces distorce pérolas da verdade.

Existe uma força oculta pulsante e reluzente no âmago de todos nós. Mas é preciso olhar pra dentro com afinco, com consciência, com responsabilidade. Para lapidar seu coração exige trabalho, e isso não se conquista com mãos em prece repassando mensagens “inspiradas” com fotos de pôr-do-sol no grupo do Whatsap.

Para se tornar um oceano-dentro-da-gota-dentro-do-oceano é preciso muito mais que frequentar reuniões, ir a cultos, e repetir ad-eternum a mesma ladainha de sempre, em estudos de livros que levam anos inteiros para serem concluídos e quando se conclui nada-se acrescentou ou compreendeu!

Olhe pra dentro, para aquilo que te assusta, para o silêncio profundo, esqueça essas máscaras “espirituais”, a vida interna é muito mais que isso! Instigue-se! Provoque-se! Medite, questione, vá além do conforto de seguir alguém. Não existe transformação sem um incomodo visceral que te tira de todo conforto possível!
A luz brilha em ti, mas é preciso tirar as máscaras!