Ave Maria revisitada:
domingo, 31 de janeiro de 2021
Ave Maria versão gnóstica - a Virgem de Luz.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2021
Ler é um ato de profunda intimidade.
Ler um bom livro é um momento único, e são nesses momentos
que a compreensão pode transcender a mente concreta e alçar voos mais abstratos,
regados por uma dose de intuição e conexão cardíaca com o tema ou autor.
Quando a gente lê apenas com o cérebro esses momentos não
acontecem. Quando lemos num estudo em grupo ou simplesmente fazemos uma leitura
coletiva em algum encontro virtual ou presencial, usamos apenas o aparato
racional do cérebro, e dificilmente a compreensão toca a intuição-coração. Gosto
de estudos em grupo para partilharmos reflexões, mas nunca para tomar o
primeiro contato com um texto.
Tenho para mim que estudar uma obra exige um momento de
intimidade, uma conexão com Eros; é necessária certa introversão, para que a mente
toque patamares metafísicos e desvele as verdades interiores que foram
sufocadas pelo esquecimento.
Quando passo muito tempo lendo em grupos ou ouvindo
leituras, sinto saudades dos momentos solitários. Os livros sempre foram meus
melhores amigos, em todos os momentos, são os livros que entendem, que respondem,
que acolhem, confortam, que libertam e ensinam.
Nunca abandone seus próprios momentos criativos de leitura e
intuição. Não troque a dedicação pessoal no seu próprio ritmo e aprofundamento
por estudos em grupo ou leituras coletivas ou o mero ouvir alguém explicando.
Complemente seus momentos de dedicação solitária com estudos
em grupo, ouça as reflexões de outros, as explicações, debata, tire dúvidas –
mas mergulhe nos livros também, explore as profundezas da mente, e deixe a alma
voar. E então quando encontrar aquele livro que te abraça, mergulhe em
meditação.
Alaya Dullius (Janeiro 2021)
terça-feira, 12 de janeiro de 2021
Lançamento do livro A GNOSIS DE JOÃO - Coautoria de Alaya Dullius
Que a Luz do Logos ilumine vossas Mentes!
Dicas de Livros sobre Gnosticismo / Evangelhos Gnósticos em Português
Quem busca sobre a tradição gnóstica em português muitas vezes se depara com inumeras obras de autores de qualidade extremamente duvidosa e questionável se dizendo como "gnósticos". Porém não deve o buscador confundir a Gnosis de Jesus, e o gnosticismo dos séculos 1 a.C até 4 d.C (sethianos, valentinianos, Nag Hammadi, etc) com deturpações modernas.
No intuito de facilitar para quem não lê em inglês, criei essa lista de obras em português cuja qualidade gnóstica é mais confiável, assim não perde-se tempo tentando filtrar.
Algumas dessas obras são mais acessíveis à leitura, outras são de qualidade acadêmica, outras são apenas traduções. De toda forma, para aquele que busca a Gnosis e quer conhece-la em suas origens, deixo minha lista.
------- Aproveite também para acompanhar meu trabalho no YouTube, com playlists dedicadas ao estudo do gnosticismo https://www.youtube.com/c/VivekaAlaya/playlists
Livros Indicados sobre Gnosticismo e Evangelhos Apócrifos - Gnosis Cristã.
1. Os Evangelhos Gnósticos – Elaine Pagels – Ed. Objetiva/ Cultrix
- Uma das melhores introduções a temática!
2 - A GNOSIS DE JOÃO - O Apócrifo, o Hino e a Cruz de Luz - Alberto Brum e Alaya Dullius - Ed. Garbha-Lux (www.garbhalux.org.br)
5. A gnosis viva do Cristianismo Primivito – G. R. S. Mead (Se acharem usado, está esgotado. Talvez a editora Garbha-Lux faça uma reedição aumentada e melhorada no futuro)
- Contém alguns dos apócrifos gnósticos em uma tradução razoável, algumas introduções e trechos da patrística sobre os gnósticos.
Em Edessa, capital do reino de Osrhoene (hoje a cidade Sanliurfa, no sudoeste da Turquia), o gnosticismo de Tomé e Bardesanes esteve presente em uma escola que deu origem à tradição do profeta Mani.
Este livro é o resultado de estudos realizados por longos anos e apresenta o filósofo estoico e o gnóstico “herético” Bardesanes (séc. II e III d.C.) e sua relação com a gnosis de Tomé, Hermógenes e Axionicus. Também mostra o vínculo dele com as Odes de Salomão, a astronomia estoica e babilônica e o santuário da deusa Atargatis (Hierápolis).
Bardesanes foi ligado à tradição filosófica cristã (Taciano e Clemente de Alexandria), ao platonismo, ao estoicismo e ao gnosticismo ophita da escola de Valentino. Editou hinos gnósticos presentes nos Atos de Tomé, e o Livro das Leis das Nações dá uma visão da sua filosofia.
Após um extenso e original estudo sobre Bardesanes, o livro inclui a tradução e comentários de G.R.S. Mead ao Hino da Veste de Glória e à Canção Nupcial da Sabedoria.
19. GNOSIS E APOKALYPSIS DE TIAGO - Editora Garbha-Lux https://www.garbhalux.org.br/produto/gnosis-e-apokalypsis-de-tiago/
O nazareno Yacob, o filho de José (Jeoshua) e discípulo de Jesus, é o foco desta reflexão-pesquisa, que se associa aos livros A Gnosis de João e Bardesanes e os Hinos de Tomé. A Gnosis (Sabedoria) e os Apokalypsis (Revelação) são o centro da abordagem.
Este estudo apresenta o Tiago gnóstico que está presente nos textos encontrados na Biblioteca de Nag Hammadi no Egito (1945) – o Apócrifo e os dois Apocalipses. Inclui a relação da Epístola com a filosofia estoica, com a Torah e a presença de um tom ebionita (a ênfase na pobreza espiritual).
É enfatizado o elo de Tiago com Cerinto, um nazareno judeu-cristão que influenciou os primitivos ebionitas. Há destaque ao Livro de Elxai (usado pelos mandeanos) e aos nazareno-ebionitas, incluindo as ideias do inglês G.R.S. Mead sobre Cerinto, e aos cristãos nazarenos-ebionitas.
O livro inclui a introdução, tradução e comentários ao Apócrifo e os Apocalipses de Tiago, uma análise do Protoevangelho de Tiago e um exame da tradição dos apocalipses (judaicos, entre os essênios de Qumran e no gnosticismo).
20 - EVANGELHO DE FELIPE - Jean-Yves Leloup - Editora Vozes 2006
22 - EVANGELHOS APÓCRIFOS - Gregos e Latinos - Tradução Frederico Lourenço - Companhia das Letras - (contém o Evangelho de Maria inteiro - é curto. Quanto aos outros traduzidos, não são da lista de apócrifos gnósticos, são evangelhos extracanônicos e pseudoepígrafos, mas não é uma publicação que trouxe conteúdos gnósticos.)
23 - O DEUS EXILADO - Marilia Fiorillo - Ed Civilização Brasileira, 2008
quarta-feira, 6 de janeiro de 2021
"Se não leu no original não vale" - A desvalorização dos tradutores no academicismo.
“Sem ler no original seu pensamento não tem valor”
Por Alaya Dullius, com colaboração de Bruno Carlucci
Não é nenhum segredo meu desgosto com algumas questões do
mundo acadêmico. Certamente sou grata aos colegas e professores que me
acolheram em minha curta jornada de um mestrado em Filosofia Antiga. Também
reconheço os trabalhos muito bem pesquisados e fundamentados que aprofundam
diversos assuntos interessantes para mim, e dos quais me benefício enormemente.
Desconsiderando minhas costumazes críticas quanto a reciclagem
de assuntos apenas para atingir pontuações de publicações, a falta de
envolvimento com o assunto ao qual se dedica, escolhendo o tema de pesquisa
apenas por conveniência ou busca de fama. Ou o fato de alguém se dedicar a
estudar algo não com o intuito de aprofundar uma pesquisa -- mas de se
apropriar do tema para se tornar autoridade nele mesmo que desgoste e discorde
do tema em si, inclusive trazendo o tema por um viés que, para quem o aprecia,
parece ridículo. E claro, as constantes disputas de ego, debates pomposos,
discussões enfadonhas, uso de vocabulário pedante propositalmente e os enfoques
absolutamente enviesados que desconsideram características de algum filosofo
simplesmente por que não lhes apraz ou não cabe em seus pré-conceitos... enfim,
desconsiderando vários dos problemas do academicismo vazio, há uma questão que
sempre me alfineta...
O tal de “ler no original”.
Ler no original é melhor? Sem dúvida! Claro!
Mas antes de ser mestre em filosofia eu sou tradutora por
formação, e cansei de ver descaso com o trabalho dos tradutores.
Cansei de ver gente ser desdenhada como se o simples fato de
não ter lido no original tornasse necessariamente a compreensão da pessoa sobre
o tema equivocada. “Ah você já leu todos os livros de fulano de tal? Mas não
leu no francês, então não compreendeu, logo sua opinião não vale”.
Como tradutora eu sei que cada língua carrega um mundo. “Os
limites do meu mundo são os limites da minha linguagem”, algo assim, diria
Wittgenstein. Como tradutora eu sei que palavras possuem nuances únicas que nem
sempre são facilmente traduzíveis. Como tradutora acho inclusive importante, no
que tange algumas temáticas da filosofia pelo menos, que no mínimo se conheça a
terminologia técnica na língua original, para captar bem o sentido do que está
sendo dito.
Mas como tradutora eu também valorizo o trabalho dos
tradutores. Não são todos traidores. Eu participei de muitas aulas de estudos
linguísticos, teoria da tradução, Saussure, Derrida, Chomsky, Rosemary Arrojo,
Nida. Eu debati muito sobre a tradução de “textos sensíveis”, “linguagem
poética”, “terminologia técnica”. E eu aprendi que a tradução muitas vezes é
sim possível, especialmente quando o tradutor tem conhecimento da área que
traduz.
Conhecer a língua fonte é útil e importante, não estou
negando isso. Mas conhecer o assunto, em suas nuances, interpretações, autores
periféricos, autores correlatos, dominar o tema, é muito mais importante!
Não adianta nada dominar uma língua se não há boa vontade
para investigar o tema. Ler no original não é selo de “melhor compreensão”.
Facilita a compreensão, mas não garante!
Até poderíamos dizer que talvez ler Lao Tzu, com
traduções que vem do chinês antigo ao português, seja mais complicado. Talvez
seja mais complexo conseguir uma reta compreensão do Kata Upanishad
traduzido do sânscrito ao português, ou entender um sutra tibetano sem se
perder no estilo de linguajar tão diferente deles.
Contudo falta a muitos acadêmicos o traquejo dos tradutores,
parece que consideram as línguas um simples sistema rígido de decodificação. Se
apegam à forma da fonte e terminam por traduzir textos que na língua meta ficam
ininteligíveis. Parece que muitas vezes é mais um exercício de filologia do que
de tradução.
Um bom tradutor conhece mais do que a língua, ele conhece o
assunto!
Mas zombar de alguém por que leu em inglês e não em francês,
ou preferiu o italiano ao original em inglês... quando o autor é nativo (no
tempo e espaço) dessas línguas modernas... ai é demais!
Antes de tudo sou formada em tradução, enxergo a língua como
algo vivo, maleável, volátil. Estudei um pouco de latim, grego, francês,
alemão, espanhol. Mas cansei de ser diminuída por ouvir que “se você não ler
fulano no original em francês não vale”. Cansativo! Bons tradutores existem! –
E ao invés de tentar aprender em alguns meses uma língua nova, “gasto” esses
meses e leio traduções, me aprofundo mais ainda no assunto!
Acho lamentável que se critique o trabalho de alguém por que
em alguma citação o autor fez uso de uma tradução indireta de uma obra
clássica. – “Não pode citar Homero sem ser no grego, não pode citar Platão sem
ser no grego! Lamentável que você tenha usado uma tradução indireta de Proclo”
– Haja paciência.
Novamente, não é o domínio da língua que garante a
compreensão. Não desmereço o trabalho de nenhum colega acadêmico só por que ele
lançou mão de uma citação traduzida!
Conheço muitas pessoas que sabem ler tibetano, e acham que
com um pouco de estudo em budismo se tornam tradutores proficientes. Como se
bastasse ser um codificador ambulante. Conheço também pessoas que possuem décadas
de estudo em budismo, em todas as suas nuances e abrangências filosóficas, e
mesmo sem dominar o tibetano compreendem na terminologia traduzida onde o
tradutor “especialista” falhou, pois dominam o tema como ninguém e sabem
exatamente o que tal palavra quer dizer naquele contexto.
Sim, admito a importância de eu mesma aprender o copta. E já
estou com meu “Aprenda copta em 20 lições aqui do meu lado” -- será um esforço
para o futuro. Mas meu ponto é, ser uma tradução não torna algo sem valor!
Saber a língua original não torna a compreensão necessariamente melhor!
E há ainda outra questão a ser colocada! O elitismo de
publicar livros onde as citações são colocadas apenas na língua original! Ficam
os acadêmicos em seus pomposos castelos de areia debatendo o quão sapientes
são; mas suas pesquisas não se tornam acessíveis ao público que se interessa
pelo tema! Quantas vezes vi livros publicados, com temas de interesse geral (e
não apenas pesquisa de nicho acadêmico), onde o texto em português é recheado
de citações em alemão, italiano, francês. Ou, no caso da filosofia antiga, o
uso dos termos em grego não é sequer transliterado, as palavras são mantidas no
alfabeto grego, sem nem uma nota de rodapé, como se todo leitor tivesse a
obrigação de conhecer esta língua! Será que percebem a arrogância desse tipo de
ação?
Tradutores são agentes importantes em nosso mundo. Aprofundar
a compreensão filosófica e intuitiva é mais importante que aprender códigos. O
“Logos” da alma não tem língua. No âmbito da compreensão profunda, é possível
ir além do mero domínio lexical.