quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Discurso de Cremação de Helena Blavatsky por G.R.S. Mead - 8 de maio de 1891

Leitura feita por G. R. S. Mead, Secretário Geral da Seção Européia da Sociedade Teosófica, no momento da cremação do corpo de Helena Petrovna Blavatsky


Após a morte de HPB, seus amigos e alunos se dirigiram até a estação de trem Woking, em Londres, rumo ao único crematório da Cidade. Lá, seu aluno, teósofo e secretário leu uma bela Eulogia Fúnebre, que traduzo abaixo - Alaya Dullius



"Irmãos e amigos teósofos.
Helena Blavatsky está morta, mas H.P.B, nossa instrutora e amiga, está viva, e viverá para sempre em nossos corações e memórias. Em nosso presente pesar, é este pensamento que devemos ter em mente. É verdade que a personalidade que conhecemos por Blavasky não está mais conosco; mas é igualmente verdade que o magnífico e nobre ser, a grande alma que nos ensinou todos a viver vidas puras e mais altruístas – esta ainda vive. 


Querida como a personalidade de H.P.B é para nós, para muitos os quais ela tomou o lugar de uma amada e reverenciada mãe, devemos ainda lembrar que, como ela mesma nos ensinou, a personalidade é a parte impermanente da natureza humana e a mera roupagem do real ser.
A verdadeira H.P.B não está deitada aqui em nossa frente. O verdadeiro Self que inspirou tantos homens e mulheres em cada canto do mundo com um nobre entusiasmo pela humanidade sofredora e o verdadeiro progresso da raça, combinado com um elevado ideal de vida e conduta individual, não pode ser confundido com o mero instrumento psíquico que lhe serviu por uma breve encarnação.
Companheiros teosofistas, o dever que nos foi legado, seus pupilos e amigos, é claro e simples. Como todos nós sabemos bem, o grande propósito de vida de nossa instrutora nesta sua presente encarnação, o qual ela seguiu com completo altruísmo e motivação sincera, era restituir à humanidade o conhecimento daquelas grandes verdades espirituais que nós hoje chamamos Teosofia.
A constante fidelidade de H.P.B à sua grande missão, da qual nem o desprezo nem a deturpação feita a fizeram desviar-se, era a nota chave de sua força e natureza destemida. Para ela, que sabia tão bem a verdade dessa missão e seu significado oculto, Teosofia era um poder sempre presente em sua vida, e H.P.B era incessante em seu esforço para expandir o conhecimento das verdades vivas as quais ela tinha tanta convicção, então, pela influência delas, que está sempre se ampliando, a onda de materialismo na Ciência e Religião deve ser interrompida, e uma real e conclusiva fundação deve ser estabelecida pelo verdadeiro progresso e irmandade da humanidade. 

Com tal exemplo perante nós, então, nosso dever como teosofistas está claro. Nós devemos continuar o trabalho que H.P.B tão nobremente iniciou, se não com seu poder – o que para nós ainda é impossível – ao menos com um entusiasmo, auto-sacrifício e determinação que, sozinho, possa mostrar nossa gratidão a ela e nossa apreciação à grande tarefa que ela nos confiou.
Devemos, portanto, cada um de nós assumir nossa porção da tarefa. A Teosofia não está morta por que hoje estamos diante do corpo morto de HPB. A Teosofia vive, pois a Verdade nunca pode morrer; sobre nós, os mantenedores desta Verdade, deve repousar a mais pesada das responsabilidades, o esforço para delinear nosso próprio caráter e nossas vidas de modo que esta Verdade possa ser enaltecida para os outros, e possamos ser exemplo.
É de grande boa fortuna para todos nós que HPB deixou seu trabalho em uma fundação firme e bem organizada. Apesar da saúde falha e da dor física, nossa amada líder até seus últimos momentos de vida continuou com incansável esforço pela causa que tanto amamos. Ela nunca relaxou de sua vigilância pelos interesses dessa causa, e repetidamente ela imprimiu naqueles que a cercavam os princípios e métodos pelos quais o trabalho deveria continuar, nunca contemplando por um momento sequer que a morte de seu corpo pudesse ser um real impedimento para a continuidade do dever incumbido a cada ardente membro da Sociedade. Este dever, que está tão claro ante nós, e que foi tão bem representado por nossa amada HPB, é espalhar o conhecimento de Teosofia por todos os meios em nosso poder, especialmente através da influência do exemplo de nossas próprias vidas.
Por mais que amemos e reverenciemos nossa líder, nossa devoção ao trabalho não deve estar baseada em afeições transitórias por uma personalidade, mas na fundação sólida de uma convicção que na própria Teosofia é achada naqueles princípios espirituais eternos de reto pensamento, reta fala e reta ação, os quais são essenciais ao progresso e harmonia da humanidade.
Por mais que amemos e reverenciemos nossa líder, nossa devoção ao trabalho não deve estar baseada em afeições transitórias por uma personalidade, mas na fundação sólida de uma convicção que na própria Teosofia é achada naqueles princípios espirituais eternos de reto pensamento, reta fala e reta ação, os quais são essenciais ao progresso e harmonia da humanidade.
Acreditamos que se H.P.B pudesse estar aqui presente e falar conosco agora, esta seria sua mensagem para todos os que, independente de raça, credo ou sexo, estão conosco em coração e simpatia. Ela nos diria, como já disse a muitos de nós, que uma "vida limpa, uma mente aberta, um coração puro, um intelecto ardente, uma clara percepção espiritual, afeto fraternal para com todos, presteza para dar e receber conselho e instrução, corajoso suportar das injustiças pessoais, uma destemida declaração de princípios, valente defesa daqueles que são injustamente atacados e uma constante mira no ideal de progresso e perfeição humanos que a Ciência Secreta revela – esta é a escada de Ouro por cujos degraus pode o aspirante galgar o Templo da Sabedoria Divina."
E agora em silêncio nós nos afastamos do corpo de nossa professora e voltamos ao trabalho no mundo. Em nossos corações devemos sempre carregar conosco sua memória, seu exemplo e sua vida. Cada Verdade que proclamarmos, e cada esforço teosófico que fizermos, será mais uma evidência de nosso amor por ela, e, o que deveria ser ainda maior do que isso, de nossa devoção à causa pela qual ela viveu. Ela sempre foi fiel a esta causa, - que nenhum de nós nunca seja falso a essa verdade."

G.R.S. Mead



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Se você quer ver um relato de quem estava com HPB em seus últimos momentos e entender a ocasião de sua morte no dia 8 de maio de 1891, veja este depoimento que traduzi da Laura Cooper aqui:
 http://viveka1.blogspot.com/2019/05/a-morte-de-helena-blavatsky.html

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Introdução ao Budismo - Sidharta e as Quatro Nobres Verdades - O sofrimento e o caminho de Libertação


Introdução Ao Budismo - Parte 1
Sidharta, o Buda. Sua história, as primeiras escolas, o primeiro ensinamento. As quatro nobres verdades, a origem do sofrimento e o caminho óctuplo - no vídeo abaixo:



Buda-Dharma

É uma tradição filosófico-religioso-psicológica que explicita como seu objetivo oferecer ensinamentos e práticas, um modo de vida que leve a eliminar o sofrimento e alcançar a felicidade, a Libertação do sofrimento e de suas causas, experimentar a Iluminação.  O Budismo expressa-se sob muitas formas: escolas, tendências, linhagens. 

               
“O estudar começa pelo ouvir e o ler sobre o Dharma (os ensinamentos de Buddha).
                O primeiro benefício é aprender os pontos essenciais (enfatizados no Lamrim).
                O ouvir e o estudar conduz à eliminação da escuridão da ignorância (Aryasura).”

 Não devemos ficar satisfeitos com 2 ou 3 anos de estudo. Os sábios mestres estudaram 25 ou 30 anos e são sentem que conhecem tudo.  Trijang disse: “Eu li o Lamrim extenso (de Tsongkhapa) uma centena de vezes”. E acrescentou: “Um dia de estudo com um mestre espiritual é centenas de vezes mais valioso do que todo um ano de retiro repetindo sílabas...”. O mais importante fator do sucesso nos estudos é a aproximação da mente de uma reta motivação. Os atuais Geshes têm enfatizado que o budismo é uma 'filosofia viva' - algo para se estudar, aprender e colocar em prática.

Sidharta Gautama e o Budismo Mahayana

Sidharta Gautama, O Buddha (O Desperto/O iluminado), nascido em Lumbini -oeste do Nepal-, próximo a Kapilavastu, no reino dos Sakyas. Estima-se que viveu entre 643-563 a.C.  Um Buddha é alguém que completou a jornada da senda dos Bodhisattvas e alcançou o último estágio (bhumi).

Diz a lenda que partiu do palácio de seu pai aos 29 anos e se envolveu com práticas de ascetismo, com as quais rompeu após 6 anos de prática. Sidarta tornou-se um Buda numa noite de lua cheia no mês de maio, quando tinha 35 anos, e por 45 anos ensinou para diversos grupos diferentes por toda a Índia.
Grupos diversos sugiram, em Kashmir os Mahasangikas deram origem à tradição Mahayana. No século VIII d.C. Shantarakshita leva o budismo ao Tibete.  Diversos budismos: Theravada, Mahayana, Vajrayana; Diversas escolas.



As 4 Nobres Verdades

Ao ensinar começou indicando qual é a situação dos homens na existência, que em síntese é nascer, crescer e morrer.

As 4 verdades são:
                a- duhkha : a verdade da existência do sofrimento
                b- avidya : a verdade da causa-raiz do sofrimento
'               c- nirodha : a verdade sobre a cessação do sofrimento
                d- o caminho para a cessação do sofrimento    


               
O Óctuplo caminho:

- reta compreensão
- reto entendimento
- reta palavra
- reta ação
- reto meio de vida
- reta energia/entusiasmo (virya)
- reta atenção (dhyana)
- reta contemplação (samadhi)

Três tipos de duhkha:
1.duhkha-duhkha (o sofrimento propriamente dito – dor física, doenças, morte etc)
 2. Vipanirama-duhkha (o sofrimento associado à impermanência, psicológico).
3. samskara-duhkha (o sofrimento como tendência existencial. Sofrimento resultante das formações mentais , dos agregados que compõem o 'eu' aparente. As perturbações (kleshas) geradas pelo pensamento.)


O termo sofrimento é muito sintético. O termo usado em sânscrito foi duhkha e é bastante rico de sentidos, pois inclui a situação insatisfatória da existência, a dor gerada pelo entendimento da impermanência e da finitude da vida (o estar em direção à morte), a tristeza, a angústia, a ansiedade, a depressão, todas as dores físicas e psicológicas. Há ainda um mecanismo inconsciente que dá sustentação a duhkha e que é gerado por uma visão em relação à existência de um “eu” individual, concreto e separado de todos e de tudo.

                - 'O sofrimento é para ser plenamente conhecido.
                   A fonte do sofrimento é para ser eliminada.
                   A cessação do sofrimento é para ser vivenciada diretamente.
                   A senda que conduz à cessação do sofrimento é para ser cultivada'.
                   (Lalitavistara Sutra)

                - 'Estas são as nobres verdades do sofrimento: nascer é sofrimento, envelhecer é sofrimento, adoecer é sofrimento, morrer é sofrimento. Aflição, lamentação, dor, pesar e desespero são sofrimento. Estar unido com aquilo que não gostamos e estar separado daquilo que gostamos é sofrimento. Não obter aquilo que desejamos é sofrimento. Os cinco grupos de agregados (skandhas) são sofrimento' .  (versão Theravada)

As Três Jóias – Os Três refúgios
·         o Buda;
·         o dharma, o ensinamento
·         a sangha, a comunidade espiritual de instrutores budistas