sábado, 28 de março de 2020

Previsão do I-Ching para o Brasil - Coronavírus

“O que esperar do coronavírus no Brasil no futuro próximo?” Essa foi a pergunta que fiz ao I-Ching, o oráculo chinês com mais de 3 mil anos. O I-Ching, com seus 64 hexagramas de respostas possíveis, nos ajuda a entender os movimentos cíclicos da natureza e da vida, e tira um “retrato” desses movimentos no presente, jogando para o futuro. É como se ele acessasse nosso inconsciente coletivo e nos desse uma previsão do que esperar das consequências de nossas ações já postas em movimento.

Então, olhando para dentro, o que precisamos entender nesse momento? Como lidar a situação atual? Fiz essa pergunta ao I-Ching para ter uma visão do cenário esperado nos próximos meses. O que ele me disse é que é estamos vivendo um momento de conclusão, de fechamento de um ciclo, de início de uma nova forma de viver. Estamos fechando portas, para abrirmos novas, é um momento de instabilidade mesmo, e é um grande fechamento.
Hexagrama 63 – Após a Conclusão, que foi a resposta dada à pergunta feita, apresenta a harmonia de forças opostas que estão criando uma nova mudança. São energias contrastantes se aproximando. Forças em movimento que se opõe e se afetam constantemente. Para conhecer o texto completo clique: 63 – Após a Conclusão.
Estamos em um ponto máximo dessas forças, cada uma delas atingiu seu ápice, é uma colisão o que está acontecendo. O fim de uma era, e uma fase de recomeço.
Por serem energias que estão em sua expressão máxima, a mudança que elas causam parece súbita e forte. Mas essa mudança é um aspecto natural da harmonia. É a culminação de um ciclo o que estamos vivendo, e o estado de paz será encontrado com um constante equilibrar de forças, e um movimento interno nosso. Precisamos nos apoiar no que é forte em nós, nossa humanidade, nossa solidariedade.
Significado do Hexagrama 63 do I Ching 'Após a Conclusão'
Nesse momento de fim de ciclo, em que tudo se completa, e o ponto de início de um novo viver começa, precisamos nos preparar para grandes mudanças, internas e externas.

Tenhamos perseverança, e sejamos corretos em nossas ações. Não é hora de olharmos apenas pro nosso umbigo, é hora de rever nossas relações com os outros, com o mundo, e com o que cultivamos dentro de nós mesmos.
Haverá desordem, uma desordem necessária para que tudo seja posto às claras e possamos nos reorganizar internamente e externamente. Precisaremos sustentar nossa estabilidade.
Nos diz o I-Ching que “no auge do verão já se instala o germe do inverno; a partir do meio-dia o Sol se dirige para o inevitável ocaso. É por essa razão que um progresso maior só pode ser obtido nos detalhes, em pequenas coisas.”
Pequenas coisas é olhar para dentro, arrumar nossa casa interior, nosso Lar e nossas relações. É rever nossa vida. Nós passamos os dias buscando alcançar metas, conquistar coisas pensando apenas em nós mesmos, aí reside a raiz da decadência que leva à desordem final que estamos vivendo. A crueldade humana para com os animais e a crueldade de ser humano contra ser humano. Nesse momento de crise, somos convidados a olhar para dentro de nós e reavaliarmos nossos valores, nossas metas, nosso viver.
A Natureza vive de modo cíclico, impermanente, e tudo passará e se transformará. Essa desordem não é uma fatalidade por si só, mas é uma tempestade que nos urge a aprender algo. À prosperidade segue o declínio, e com a dor surge a transformação. Precisaremos de cautela, de tomar precauções e de uma perseverança no sentido correto. “O homem nobre reflete sobre o infortúnio e se previne de antemão contra ele,” diz o I-Ching. Que possamos refletir e ficarmos bem, e termos solidariedade com quem precisará de mais ajuda.
Quando forças antagônicas entram em atrito, geram energias necessárias à humanidade ao mundo. São forças hostis e precisaremos de máxima atenção para ficarmos em relativo equilibro e evitar danos maiores. Mesmo quando tudo parecer em ordem, precisaremos reconhecer os sinais do perigo e saber afastá-lo graças às precauções tomadas em momentos oportunos.
Que possamos todos fazer uma profunda revisão interna de nós mesmos e nosso modo de vida. Fiquem em casa, ajudem-se mutuamente, sejam forças positivas somando no coletivo. A tormenta passará, mas cabe a nós saber como reagir a esse momento. Fiquem bem! Sejamos solidários!
Vídeo de Viveka apresentando a Previsão dada pelo I-Ching para os próximos meses de Coronavírus no Brasil: 

domingo, 1 de março de 2020

O que é gnosticismo? Um resumo

Definindo o Gnosticismo - Karen King
resumo por Alaya Dullius



Karen King, em seu livro What is Gnosticism? (2003) apresenta uma magnifica argumentação a respeito das rotulações do gnosticismo e do cristianismo que aqui sumarizamos: Ela afirma (p. 15) que definições são limitadas, e só servem para chamar atenção a respeito de certas características de um fenômeno, ignorando outras características. King critica o uso definitivo do termo ‘gnosticismo’, tratado como entidade histórica e não como categoria de definição. O termo só passou a ser usado recentemente, e faz mais sentido falar de ‘gnósticos’ do que de uma doutrina especifica e fechada, pois tal não existiu.

King aponta (p. 17) para uma tendência de objetificar o passado e nos lembra que “não havia nenhum hierarquia episcopal universalmente reconhecida, nem nenhum credo em comum, ou cânone neo-testamentário nos primeiros séculos.” (p. 23) A patrística, já no século II d.C., no processo de confrontar as heresias, ganhou uma visão mais firme e definida de si mesma como ortodoxia (p. 25), porém é preciso entender que chamar outros de heréticos é apenas uma forma de segregar um grupo, e não significa necessariamente uma ‘opinião correta’. “A maioria dos elementos que hoje consideramos fundamentais para o pensamento e prática Cristãs, mais especificamente o cânone e o credo, eram ausentes no Cristianismo primitivo” (p. 25).

Portanto não deveríamos ler a evidência do passado apenas através da perspectiva tingida, o ‘gnosticismo’ (que não é um ‘ismo’) não deve ser definido em relação ao cristianismo normativo, como se um tivesse surgido antes do outro. Não pode ser chamado de ‘heresia cristã’, pois isto já parte de uma premissa que leva em conta o rótulo dado pelo grupo dominante. Clemente de Alexandria, por exemplo “usava o termo ‘gnóstico’ para se referir a cristãos que avançaram bastante em seu entendimento espiritual. (p. 26). Não se pode falar de um ‘gnosticismo dualista’, ou que os gnósticos possuem uma visão negativa do mundo e são amorais, pois isto seria levar em conta apenas a visão heresiológica e parcial sobre eles e “os retratos da heresia feitos pelos polemistas seriamente distorciam a visão a respeito de seus oponentes” (p. 27).

A criação da heresia foi apenas parte do projeto de formação da identidade cristã. “Os cristãos também tinham que criar categorias que os distinguissem de outros. O resultado são as categorias muito bem conhecidas: Cristianismo, Judaismo e Paganismo. Porém a validade dessas categorias não é tão auto-evidente quanto o seu amplo e divulgado uso parece implicar” (p. 38). Jonas defende a unidade do gnosticismo baseada não nas doutrinas, mas na ‘atitude existencial’. Harnack descreve o gnosticismo como “uma aguda helenização do cristianismo”, e novamente a definição da gnosis fica em dependência de um cristianismo que não existe como unidade definida. Reitzenstein, diz King (p. 89), vai buscar uma origem Mandeana-gnóstica para Jesus, e foi buscar a origem da expressão ‘Filho do Homem’ em fontes persas.

Outros se dirigiram a fontes judaicas. É preciso entender, considera King (p. 68) que o gnosticismo não é uma entidade viva, mas apenas uma ferramenta retóricas que trabalhou para produzir uma versão normativa de cristianismo. É por demais superficial procurar entender o cristianismo apenas através de duas categorias (ortodoxia e heresia), “ele é muito mais multiforme” (p. 115).  Portanto falamos de cristianismo gnóstico, judaismo gnóstico, valentinianismo cristão, cristianismo tomista, catolicismo, etc. E ainda assim não podemos dizer o quão gnóstico, o quão cristão, o quão judeu ou helênico, alguma dessas ‘categorias’ de fato é. “Dado o caráter sincrético e volátil da literatura religiosa e filosófica no antigo mundo Mediterrâneo, é inútil insistir que certos textos pertençam a uma (e apenas uma) tradição” (p. 169).

O cristianismo normativo não deve ser o fator central para definir o gnosticismo, inclusive, dada a artificialidade desse rótulo “cristianismo”, e dado o fato de sua definição ser totalmente dependente das disputas pela hegemonia “cristã” nos primeiros séculos, poderiamos inclusive afirmar que é o gnosticismo que representa de forma mais aproximada o ensinamento que o “possível Jesus” tenha transmitido, mais do que a própria doutrina eclesiástica; diriamos então que o gnosticismo é muito mais “cristão”, e o cristianismo muito mais “herético”. Assim, o “Gnosticismo pode ser uma opção teológica legitima para a prática e crença cristã” (p. 173).

A tradição de Jesus gerou uma variedade de respostas, e nem todas elas tornaram-se “ortodoxas”. (p. 228) Portanto, é preciso “repensar a conjetura de que a verdade (‘ortodoxia’) é caracterizada por unidade, uniformidade, unanimidade; e a falsidade (‘heresia’), por divisão, diversidade” ( p. 229), pois “religiões não sao entidades fixas com uma determinada essência ou momento decisivo de pura originação. São construções que requerem trabalho, diálogo, abertura de fronteiras para outras tradições” (p. 230). Portanto não podemos dividir ‘gnosticismo’ e ‘cristianismo’ como se fossem simplesmente duas coisas certas e decididamente distintas. Podemos falar em variedades de cristianismo e gnosis.