quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Teresa d'Ávila - a mística contemplativa apesar da Igreja.

     A liturgia católica comemora hoje, 15/10/2020, a festa da espanhola Teresa de Ávila (Teresa de Jesus), que nasceu em 1515 em Gotarrendura (Província de Avila) e morreu em Alba de Tormes, em outubro de 1582. Hoje é data de sua morte.

    Mas eu gostaria de falar com vocês sobre a Teresa além do Catolicismo. Sua vida é um exemplo dos altos e baixos da busca espiritual. Ela descreve com muita sinceridade como por muitas vezes se deixou levar pelos interesses da vida mundana, mesmo que aparentemente o hábito de monja a tornasse, aos olhos dos outros, uma 'santa'. Uma jovem apaixonada e intensa, dedicada em suas buscas, mas também, certas vezes, tentando equilibrar a vida contemplativa com as frivolidades do mundo. Ela nos ensina a não desistir, pois nunca é tarde demais para uma vida dedicada ao Espírito!
    O sofrimento das doenças a auxiliaram a encontrar aquilo que era realmente importante em sua vida, aprender a dar prioridade. Para Teresa era tudo ou nada.
Seu jeito amigável e humilde a protegeu contra o poder clerical. Seus amigos espirituais, que a apoiaram e deram suporte em sua vida, criaram uma muralha em torno dela, para que ela pudesse seguir com o trabalho espiritual.
    
Teresa hoje é 'santa católica', mas eu vejo mais nela uma alma de uma mística buscadora que, naquele momento, na Espanha da Inquisição, fez o melhor que pode (e fez muito bem!) com as oportunidades que lhe foram dadas para viver essa experiência do mergulho interior e do Servir ao Mestre da Luz.

    Incomodada com a futilidade das freiras, e percebendo a aparência vazia das missas no convento da Encarnação, ela desejou reforma. Como Francisco, tempos antes, ela queria reforma, retornar à verdadeira Igreja. Irritada com a desigualdade social dentro do mosteiro, os jogos de poder entre abadessas e padres e bispos, ela via tudo que estava errado, ela questionava, e ordenavam-lhe que se calasse.

    Teresa percebia como a aparência de santidade da vida em um convento enganava a muitos, pois ali dentro todas as características humanas de ciume, inveja, mesquinharia, egoismo, favoritismo, continuavam a ser exercidas, inclusive a busca por poder temporal e riquezas (como quando ela contrasta por exemplo as roupas bordadas com riqueza das freiras de classe alta com o fato das freiras de classe baixa que viviam no mesmo mosteiro estarem passando fome).

    Teresa queria reforma, e lutou muito para isso. Não conseguiu, mas conseguiu autorização para sair do mosteiro, e com poucas irmãs que a seguiam, fundou a ordem das carmelitas descalças, dedicada à verdadeira pratica espiritual proposta por Jesus.

    Foi ali, aos 38 anos, que ela começou a se tornar a Teresa que conhecemos hoje. Foi para essas poucas irmãs espirituais que ela redigiu orientações sobre a meditação silenciosa e o mergulho interior. Uma vida dedicada à simplicidade do serviço ao Mestre. À prática da virtude e da oração. Fundou outros conventos e fez grande amizade com São João da Cruz.

    Longe da mesquinhez e disputa por poder e influencia politico-temporal do grande mosteiro da encarnação, ela pode dedicar-se verdadeiramente à vida contemplativa. Vemos isto em suas obras Caminho de Perfeição, e a grande obra Moradas, Castelo Interior, onde Teresa narra os estágios da meditação silênciosa que adentram o castelo de Sua Majestade, em direção ao trono de diamante.

    Desacreditada por muitos padres de sua epoca, questionada diversas vezes pela Inquisição, e censurada. Essa foi a verdadeira Teresa. Que fez o que fez APESAR da Igreja. Suas obras passaram pela censura dos inquisidores. Seu comentario ao Cântico dos Cânticos foi ordenado que fosse queimado. Suas experiências místicas e interiores foram apagadas das paginas em que as redigiu.

    Como poderia uma mulher saber mais da vida espiritual que o bispo? Como poderia uma mulher afirmar ser uma servidora do Cristo e com sua simplicidade e sinceridade escancarar a falsidade dos padres?
    Deixo minha homenagem à Teresa. A "amiga" que desde minha infância me acompanha e me inspira.

"Consideremos nossa alma como um castelo, feito de um só diamante ou de um cristal claríssimo, onde há muitos aposentos, à semelhança das muitas moradas que há no céu. Pensando bem, irmãs, a alma do justo é um paraíso onde o Senhor se deleita, como Ele mesmo disse. Mas como será o aposento onde se rejubila um Rei tão poderoso, tão sábio, tão puro e tão rico? Nada se compara à beleza da alma e ao seu imenso potencial. Na verdade, o nosso intelecto, por mais agudo que seja, não chega a compreendê-la realmente, do mesmo modo que não pode compreender a Deus." Teresa d'Avila, Moradas

    Em Março dei uma palestra sobre ela e seus ensinamentos a respeito da meditação cristã. Compartilho com quem se interessar