Feitiçaria é diferente de Magia
Divina
Texto de um convidado Anônimo.
É importante abordar de forma cuidadosa e com as devidas
nuances este tema, pois simplesmente dizer que algo é magia negra tem o efeito
de contar uma mentira. A pessoa volta e diz: "vocês dizem que é magia
negra, mas dai cheguei lá eles estavam fazendo um rito de cura e doando pra
caridade, logo vocês estavam mentindo”.
O que distingue uma tradição de feitiçaria de uma Tradição
esotérica que faz uso de magia é a inexistência da compreensão e emprego do
aspecto transcendente da realidade, superior tanto ao universo material quanto
ao psíquico.
Nas tradições de feitiçaria a magia é um continuo cabo de
guerra entre os diversos seres que precisam roubar, emprestar, tomar ou trocar
sua força. Os deuses não são mais que forças psíquicas personificadas e o
feiticeiro simplesmente escolhe um lado nessa teomaquia, sendo a barganha de
poder parte central da práxis. O poder do praticante de feitiçaria depende de um lado de sua
capacidade de cultivar relações com os seres do mundo psíquico/astral e por
outro de seu poder natural que pode ser desenvolvido por uma ascese mais ou
menos refinada.
As tradições mágicas diferem em um elemento principal, cujo
conhecimento é de origem místico e teúrgico, a existência de um plano superior
ao psíquico que simultaneamente detém três propriedades: a impassividade, a
capacidade de dar ordem e harmonia ao aparente caos do mundo psíquico e o poder
irresistível de comandar as forças.
Esses três aspectos são apenas a expressão de um mesmo
princípio que ordena, comanda e não é afetado pelo devir dos fenômenos. E,
diferente do feiticeiro, que serve a algum espirito ou força personificada, o
Magista lança mão de um recurso adicional em seus atos mágicos, a identificação
e emulação desse princípio transcendental. É pelo emprego do principio
transcendente que essa forma de magia passa a ser chamada de Alta Magia ou
Magia Transcendental.
Vale ressaltar que Magia Transcendental é inseparável e se trata
do ramo “aplicado” da Teurgia e do Misticismo. Assim, enquanto o Magista possui um poder
luminoso e harmonizado com os princípios superiores, o feiticeiro praticamente
ignora o plano Noético e se limita a dominar habilmente tudo que diz respeito
ao plano sensível. O Magista possui o poder da Glória, isto é, uma virtude que
o faz irradiar luz e fazer com que outros desejem imita-lo, ele possui
autoridade. O feiticeiro possui ganância de poder, ele constrange as forças a
agirem como ele deseja. Ele age através de um poder, mas não através de uma
Glória. O feiticeiro age como o poder dos arcontes, ele precisa de sacrifícios,
substâncias, cultos. Ele barganha com forças invisíveis, acumula poderes e se
alimenta de energias densas e sutis, ele não age através do poder da Luz. Ao
mesmo tempo, o feiticeiro é muito cobiçado pelas forças que estão em planos
sutis, astrais, e não estão encarnadas, pois estar em um corpo material é motivo
de cobiça para muitos desses. Assim, esse poder do feiticeiro, que muitas vezes
pode aparentar ser um “velho sábio” ou um “dominador de forças ocultas” vem de
energias de vibração mais densa, ainda presas à ignorância e aos vícios.
O poder do Magista emana do Absoluto, vem de dentro e é
impessoal. O Magista não precisa barganhar com o absoluto, ele apenas o
manifesta a partir de uma simbologia divina e uma ascese pura. O feiticeiro usa
forças externas, precisa se ligar a entidades, ou usar artifícios. Os
mecanismos são do plano astral.
É comum tentarem levantar o argumento da colonialidade para
tentar anular essa distinção com o argumento de preconceito cultural, evitando
assim analisar de forma sóbria as implicações reais de certas práticas. Uma das
implicações mais obvias é que as tradições de feitiçaria são predominantes em
todas as regiões do globo. Não se trata de racismo, não é uma questão de etnia,
mas de práxis. Encontramos práticas dessa natureza entre etruscos, hunos, tibetanos
e escandinavos, por exemplo. Por outro lado ouvimos referências a grandes
centros de saber espiritual ligados à Magia Divina na península de Yucatan.
De
toda forma, devemos considerar por exemplo que até a chegada dos filósofos e as
Escolas de Mistérios na Grécia e em Roma, as religiões locais nada mais eram
que tradições de feitiçaria, em grande parte necromântica, empenhadas em
guerras magicas entre cidades-estado e entre famílias. É possível ver uma
gradual mudança no cenário com a chegada do orfismo, pitagorismo e platonismo
especialmente, que curiosamente alegam origem egípcia ou babilônica. O que praticavam era a Teurgia.
O que me surpreende é que, dispondo de um centro cirúrgico
equipado, alguém procure por alguém com um cerrote para abrir seu crânio. Ser
um cirurgião dos tempos de Roma é mais fácil que um neurocirurgião moderno,
qual você escolheria para te guiar rumo à cura? Magia já é uma ciência oculta
perigosa. Torna-se devastadora se for separada de uma ascese ética, e pior
ainda quando faz uso de tecnologia psíquica arcaica.
Obrigado pelo texto, achei muito esclarecedor =)
ResponderExcluirEra uma vez uma Vara, que foi retirada
ResponderExcluirdo Fogo da sarça ardente,
na mão de Moisés ela foi ANIMAda
na forma Sinuosa de Sagaz Serpente;
Feiticeiros egípcios resistiam a Moisés,
Sacerdote do Fogo Altíssimo,
as serpentes dos iddhis morreram ao seus pés
pois a Vara era Fogo VERÍSSIMO...
GCO.
Muito bom o texto! Trouxe muitos esclarecimentos.
ResponderExcluir